years and years – edith

Depois de duas noites vendo a primeira temporada de Years and Years, não consigo evitar de me apaixonar pela personagem Edith.

Resumindo, Years and Years mostra uma família com seus conflitos entre eles e com a condição da sociedade que se desenvolve numa ficção especulativa onde o avanço da tecnologia e a política performática são cada vez mais presentes.

Do pouco que foi apresentado, Edith é a ativista como muitas vezes imaginamos: viajou pelo mundo defendendo várias causas, navegou junto com uma ONG e presenciou crimes contra a humanidade. Não deixa de criticar as posturas conformistas dos seus familiares e, depois de tanto trabalho que já fez, se mostra um pouco desacreditada que o sistema pode melhorar.

A melhor cena dela, para mim, foi quando cobraram que ela (e os outros ativistas) deveriam falar sobre o Pólo Norte, que em 2025 já tão terá mais gelo. Num tom de desesperança, de quem tá pendurando as chuteiras, ela lembra que já falou, que já falaram sobre isso. Há mais de trinta anos se fala nisso e que há um novo futuro que nos aguarda onde as mudanças climáticas vão mudar também nossa organização social.

Ela também apoia a ideia de ter uma política (pessoa) que possa destruir o sistema político. Algo que me chocou muito. Quando se começa a avaliar que nos momentos de tensão social quem se ferra são sempre as pessoas do andar de baixo, que ficam mais vulneráveis a perderem todo e qualquer direito, não seria uma postura lógica de quem defendeu direitos humanos (proteger o meio ambiente equilibrado também pode ser considerado um direto humano) tacar fogo no parquinho e assistir as chamas se consumirem.

Na parte final da temporada ela já se mostra engajada novamente em buscar respostas e provas para crimes contra a humanidade que podem estar acontecendo. Ela se coloca novamente no embate, fisicamente também.

A Edith é a ativista que já tive vontade de ser. A que se joga no mundo e não tem medo das consequências de defender suas ideias. Talvez faltam mais pessoas assim, talvez esse desejo de ser como ela seria uma reformatação de que o mundo precisa de “heróis”: alguém muito corajosa(o) e dedicada(o) que luta com todas suas forças. Seria uma reedição do sucesso pessoal construído de forma individual, “meritocraticamente”.

Por outro lado, em uma de suas últimas falas ela lembra o quanto foi necessário uma articulação de várias pessoas para que eles “vencessem” e que, apesar da série se focar apenas em sua família, a família deles não tinha nada de especial. Pode ser um pouco de como estamos enlatados na forma de contar histórias, ou talvez a humanidade sempre aprendeu dessa forma.

Como a série é focada em uma família de classe média inglesa, os impactos negativos do que se espera do futuro são muito amenizados. Já vemos o que tem acontecido em outros países menos ricos em relação a políticos performáticos, onde ainda não existe respeito aos direitos humanos os impactos dessa linha de atuação política serão muito mais graves.

Nesses mesmos países menos ricos, a infraestrutura urbana, que é medíocre ou pior que medíocre, será duramente afetada pelas mudanças climáticas, levando a sérias complicações. Problemas de saúde irão aumentar em grande escala e não há serviços o suficiente para atender quem precisa. As populações mais vulneráveis desses países sofreram imensamente.

Porém não é um problema para aqueles que governam nosso país. O genocídio de pessoas da periferia é apoiado em parte pela elite econômica e da classe média, que se enxerga como usurpada do seu direito de ocupar a cidade ao seu próprio gosto. Esse trecho do Documentário “Entremundo” (a partir de 13:49) deixa bem claro que essa parcela não se importa que a periferia seja apagada e morta.

O genocídio indígena é apoiado por latifundiários que desejam lucros rápidos e não sustentáveis a longo prazo para plantio de matérias primas para exportação. O apagamento de formas de pensar que fujam ao modelo urbano/cristão/branco/capitalista serve para tirar a humanidade daqueles que mostram as contradições e injustiças. Se não forem “humanos de bem” não merecem seus direitos e nem sua própria existência.

Há quem já esteja analisando que essa virada brusca à extrema-direita seja a forma da parcela mais rica da humanidade garantir seu futuro confortável, contanto com a retirada de direitos, propriedades das outras parcelas e garantindo que os mais pobres continuem a ser explorados para manter um padrão de vida que não há como replicar para todos nesse planeta.

Talvez a gente precise de mais Ediths, não apenas para ter heroínas que se destaquem, mas para que mais pessoas mostrem que há humanos de várias formas e que há possibilidade de existir em conjunto, de uma forma mais justa.


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2 comentários em “years and years – edith

  1. Ainda não tinha ouvido falar dessa série, Dri… Parece bem interessante (mas daquelas que eu vou assistir só depois de garantir um nível mínimo de sanidade mental haha)! Gostei bastante do teu texto, fiquei pensando sobre esse lance da virada à direita ser um meio dos mais ricos garantirem um futuro mais confortável… Acho que sempre foi assim, né? Não precisávamos da virada pra direita pra isso – porque mesmo em governos supostamente de esquerda esses confortos sempre foram assegurados… mas sigo escolhendo acreditar que essa virada pra direita é um carrinho de fricção e torcendo pra que quem quer que esteja puxando ele pra trás, pra pegar impulso, puxe só o suficiente pra que a coisa ande sem que saia toda desgovernada e bata na parede depois!
    Adorei te ver publicando! ❤

    Curtido por 1 pessoa

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