Capitalismo de pirâmide

Nesse feriado rolou uma maratona de videos da Contrapoints e Philosophy Tube. Reassisti o vídeo do Olly que faz várias referências ao livro “Calibã e a bruxa” da Silvia Federicci, do qual gosto muito e já falei um pouco sobre. Me fez repensar bastante coisa:

Depois assisti o “Explained” da Netflix sobre a diferença salarial entre gêneros. Já sabia que o programa tem uma pegada muito mais liberal do que marxista e que já tem alguns anos que foi lançado (em 2018 na netflix).

Me deu uma certa gastura de (re)ver as soluções propostas sem avaliar mais profundamente as opressões. Não sinto mesmo que apenas estimular as mulheres a participarem mais do mercado, políticas afirmativas para aumentar o número de mulheres na política ou dar licença paternidade obrigatória fará as coisas mudarem. Não são políticas ruins por si só, mas elas vão apenas maquiar questões mais profundas e não vão contribuir para diminuir opressões.

A maternidade é só um ponto que prejudica as mulheres nessa comparação salarial. Tem também questões culturalmente forjadas para cair nas costas das mulheres como o cuidado doméstico, dar atenção aos familiares, cuidar da saúde/alimentação/roupas/limpeza doméstica, etc….

A mulher (ou pessoa que cuida desses afazeres em casa) quando tem uma condição financeira melhor pode terceirizar pra outra pessoa, mas via de regra essa terceirizada vai receber um valor muito baixo. Sendo essa pessoa terceirizada de baixa renda, ela não vai conseguir delegar suas tarefas de sua família então vai ter que minimizar esse cuidado de sua própria família ou vai se sobrecarregar tentar provê-lo.

Sinto falta do debate sobre o trabalho de reprodução social ou economia do cuidado que acaba não sendo remunerado ou reconhecido Tanta coisa que faz com que trabalhadores sejam criados e que permite que eles possam dedicar mais tempo (ou todo) gerando valor pelo trabalho remunerado. É essa diferença cultural que ajuda homens a conseguirem se dedicar o máximo de horas possível. É mais fácil pensar só em trabalho quando não recai em você questões como: “Tem o que jantar? Tem roupa limpa? Será que tem ração pros pets? O chão precisa ser limpo, será que tem produto de limpeza? etc…”. Essa carga mental acaba com a criatividade e disposição para outros trabalhos.

Não seria nenhum problema alguém ter que lidar com isso, mas na nossa organização social e econômica quem cuida disso acaba sendo penalizada economicamente, o que leva a ter menos autonomia financeira e social. Não são desconhecidas histórias de mulheres que cuidaram dessa reprodução social, passaram por grandes problemas (como agressões) e não conseguem sair dessa situação por falta de apoio de outras pessoas ou de autonomia própria.

Isso ilustra um pouco a ideia de que o capitalismo só sobrevive explorando o trabalho ou os recursos naturais que não são colocados na contabilidade.

Assim como esse trabalho de reprodução social é tomado como garantido mesmo sem ser pago, também se espera que tudo que a natureza gera pode ser utilizado pra gerar valor financeira independente se isso prejudica outras espécies ou mesmo as relações ecológicas que produzem aquele recurso, colocando na perspectiva de longo prazo em risco o próprio recurso explorado.

A analogia que eu não paro de pensar é esquema de pirâmide (não que seja inovador, mas agora não consigo “desver”). Pra um alguém sair ganhando, varias pessoas saem perdendo. A qualidade de vida de um depende do esforço e exploração de mais de uma pessoa.

https://en.wikipedia.org/wiki/Pyramid_of_Capitalist_System#/media/File:Anti-capitalism_color%E2%80%94_Restored.png

Penso que talvez essas crises do capital cada vezes menos espaçadas sejam um sinal de que essa pirâmide tá chegando num ponto de esgotamento.

Na era da invasão da Europa às Américas a exploração de recursos naturais mantinham a qualidade de vida e inovação tecnológica, isso junto com mão de obra escravizada.

O capitalismo tinha pra onde se expandir. Até algumas décadas atrás podia dar a esperança pra alguém que ela poderia ascender financeiramente se trabalhasse de forma dedicada, o que cada vez tem sido mais árduo. Quem sabe ser chefe de um negócio e não precisar trabalhar mais.

E a Natureza, que uma vez parecia infinita, tem deixado claro que pra sustentar a vida humana não dá pra explorar ela muito mais do que já foi.

Startups como Uber, iFood e várias outras, tem se apoiado mais na injeção de capital pelos investidores do que gerado lucro próprio. Essas empresas parecem depender de expandir seu mercado geograficamente pra aumentar o faturamento, mas não são capazes de dar condições trabalhistas mínimas.

Agora até se marketeia que uma forma de melhorar sua renda familiar é entrar pra bolsa de valores. A geração de riqueza nesse mundo está tão doida que parece mais valer a pena ir pra especulação.

Não acho que a solução pra nossa situação seja mais capitalismo, ou o capitalismo verde, ou alguma solução que ignore o quanto algo ou alguém está sendo explorado injustamente pra gerar recursos que poucos aproveitam.


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